sábado, 19 de fevereiro de 2011

Ideologias operárias no século XIX


O contraste entre a miséria em que viviam os trabalhadores e a riqueza proporcionada pela produção industrial despertava revolta entre escritores, políticos e pensadores de origem burguesa. Indignados com o que viam, alguns deles propunham reformas que instaurassem a justiça social e abrissem caminho para a formação de uma sociedade mais humana e igualitária. As doutrinas e os princípios defendidos por esses reformadores constituíram uma ideologia que se tornou conhecida como socialismo. Seu ponto de partida era a crítica às desigualdades sociais criadas ou acentuadas pelo sistema capitalista. Entretanto, havia entre os socialistas muitas diferenças de opinião, o que originou vários grupos e diversas ideologias. Alguns socialistas argumentavam que só a luta político-eleitoral e parlamentar das classes trabalhadoras poderia conduzir a uma reforma da sociedade capitalista e à instauração do socialismo. Outra corrente de pensadores socialistas preocupava-se mais em idealizar um novo tipo de sociedade do que propor uma forma concreta para os trabalhadores conquistarem o poder.  Esses pensadores ficaram conhecidos depois como socialistas utópicos, expressão derivada de Utopia, título de um livro famoso que o inglês Thomas Morus escreveu no século XVI.
Charles Fourier defendia a criação dos Falantérios, comunidades autônomas que seriam também unidades produtoras administradas pelos próprios operários.
Charles Fourier defendia a criação dos Falantérios, comunidades autônomas que seriam também unidades produtoras administradas pelos próprios operários.
Claude Saint-Simon argumentava que as camadas sociais integradas pelos altos membros da burguesia eram parasitárias.
Claude Saint-Simon argumentava que as camadas sociais integradas pelos altos membros da burguesia eram parasitárias.
Os socialistas utópicos de maior destaque foram o inglês Robert Owen e os franceses Charles Fourier e Claude Saint-Simon. Owen, por exemplo, acreditava na “revolução pela razão”: para transformar o ser humano, melhorar seu destino e curar seus vícios, era necessário primeiro questionar os valores impostos pela sociedade nas áreas religiosa, econômica, moral, familiar etc. Num segundo momento, porém, defendia uma ação transformadora mais efetiva. Ele mesmo serviu de exemplo para comprovar sua teoria. Aprendiz de um fabricante de tecidos e diretor de indústria têxtil, aos 28 anos Owen comprou quatro fiações de algodão que ficavam na usina de New Lanark, perto de Glasgow Inglaterra. As fábricas empregavam 1800 operários, dos quais 450 eram crianças. O socialista, patrão esclarecido, pôs em. prática suas idéias: racionalizou a produção, aumentou os salários e a produtividade, ampliou os alojamentos dos trabalhadores e combateu, entre eles, o alcoolismo e o roubo, dedicando especial atenção à regeneração moral. Além disso, construiu escolas para os filhos dos operários e proibiu o trabalho das crianças de pouca idade nas fiações. Sua experiência foi uma das mais bem-sucedidas da época.  
Robert Owen - Filantropia e oferecimento de boas condições para operários.
Robert Owen - Filantropia e oferecimento de boas condições para operários.
As idéias socialistas, contudo, tomariam novo rumo com dois pensadores de origem germânica, que procederiam a uma crítica radical do capitalismo, procurando criar uma doutrina que fosse, ao mesmo tempo, científica e revolucionária. Esses pensadores eram Karl Marx e Friedrich Engels. Eles fundaram uma corrente de pensamento à qual deram o nome de socialismo científico ou comunismo. Em 1848, lançaram o Manifesto do Partido Comunista, que teve profundas e duradouras repercussões no movimento operário e socialista internacional. Para Marx e Engels, o capitalismo estava condenado à extinção, assim como haviam desaparecido também o feudalismo e o escravismo, e o agente dessa extinção seria o proletariado. classe oposta à burguesia. Para a vitória do proletariado, era necessário organizar os trabalhadores e promover uma insurreição armada que levasse o partido comunista ao poder e criasse um Estado que destruísse a principal estrutura da sociedade burguesa: a propriedade privada dos meios de produção. No seu lugar, seria instituída a propriedade coletiva de todos os meios de produção. Esse Estado dos trabalhadores seria o primeiro estágio sara a formação de uma sociedade sem classes e sem governo, a sociedade comunista.      
Friedrich Engels e Karl Marx - Referências do Socialismo Cientifico e autores do "Manifesto Comunista".
Friedrich Engels e Karl Marx - Referências do Socialismo Científico e autores do
anarquismo radical e ações violentas
Bakunin: anarquismo radical e ações violentas
Outra corrente ideológica importante entre os operários do século XIX foi o anarquismo, que lutava por um tipo de sociedade sem Estado e sem propriedade privada. Os mais importantes teóricos anarquistas foram os russos Mikhail Bakunin e Peter Kropotkin. Bakunin era partidário da violência revolucionária e aconselhava seus adeptos a recorrerem até aos atentados individuais contra a vida dos governantes, enquanto Kropotkin recomendava a utilização de métodos mais pacíficos. Tanto os anarquistas quanto os marxistas lutavam por uma sociedade sem classes e sem Estado. Mas havia profundas divergências entre eles. Os partidários de Marx sustentam que para se chegar ao comunismo era necessário criar primeiro um Estado que esmagasse as resistências burguesas instaurasse a igualdade entre as classes.
russo de origem nobre, era defensor do anarquismo e da classe operária
Kropotkin: russo de origem nobre, era defensor do anarquismo e da classe operária
A forma de governo desse Estado seria a ditadura do proletariado. Já os anarquistas, conhecidos também como libertários, opunham-se a todo tipo de governo, inclusive à ditadura do proletariado, preconizando a liberdade geral e a supressão imediata do Estado. Uma variante expressiva do anarquismo foi o anarco-sindicalismo, que defendia a união entre as idéias libertárias e o movimento sindical. Essa tendência foi particularmente forte na Espanha. No Brasil, o movimento operário do começo do século XX seria liderado majoritariamente por adeptos do anarco-sindicalismo.

Idéias do século XIX: Socialismo

Aula de Revolução Industrial, Parte 2/2

Aula de Revolução Industrial, Parte 1/2

Revolução Industrial

O sistema capitalista, enquanto forma específica de se ordenar as relações no campo sócio-econômico, ganhou suas feições mais claras quando – durante o século XVI – as práticas mercantis se fixaram no mundo europeu. Dotadas de colônias espalhadas pelo mundo, principalmente em solo americano, essas nações acumulavam riquezas com a prática do comércio. 

Na especificidade de seu contexto, observaremos que a história britânica contou com uma série de experiências que fez dela o primeiro dos países a transformar as feições do capitalismo mercantilista. Entre tais transformações históricas podemos destacar o vanguardismo de suas políticas liberais, o incentivo ao desenvolvimento da economia burguesa e um conjunto de inovações tecnológicas que colocaram a Inglaterra à frente do processo hoje conhecido como Revolução Industrial. 

Com a Revolução Industrial, a qualidade das relações de trabalho no ambiente manufatureiro se transformou sensivelmente. Antes, os artesãos se agrupavam no ambiente da corporação de oficio para produzirem os produtos manufaturados. Todos os artesãos dominavam integralmente as etapas do processo de produção de um determinado produto. Dessa forma, o trabalhador era ciente do valor, do tempo gasto e da habilidade requerida na fabricação de certo produto. Ou seja, ele sabia qual o valor do bem por ele produzido. 

As inovações tecnológicas oferecidas, principalmente a partir do século XVIII, proporcionaram maior velocidade ao processo de transformações da matéria-prima. Novas máquinas automatizadas, geralmente movidas pela tecnologia do motor a vapor, foram responsáveis por esse tipo de melhoria. No entanto, além de acelerar processos e reduzir custos, as máquinas também transformaram as relações de trabalho no meio fabril. Os trabalhadores passaram por um processo de especialização de sua mão-de-obra, assim só tinham responsabilidade e domínio sob uma única parte do processo industrial. 

Dessa maneira, o trabalhador não tinha mais ciência do valor da riqueza por ele produzida. Ele passou a receber um salário pelo qual era pago para exercer uma determinada função que, nem sempre, correspondia ao valor daquilo que ele era capaz de produzir. Esse tipo de mudança também só foi possível porque a própria formação de uma classe burguesa – munida de um grande acúmulo de capitais – começou a controlar os meios de produção da economia. 

O acesso às matérias primas, a compra de maquinário e a disponibilidade de terras representavam algumas modalidades desse controle da burguesia industrial sob os meios de produção. Essas condições favoráveis à burguesia também provocou a deflagração de contradições entre eles e os trabalhadores. As más condições de trabalho, os baixos salários e carência de outros recursos incentivaram o aparecimento das primeiras greves e revoltas operárias que, mais tarde, deram origem aos movimentos sindicais. 

Com o passar do tempo, as formas de atuação do capitalismo industrial ganhou outras feições. Na segunda metade do século XIX, a eletricidade, o transporte ferroviário, o telégrafo e o motor a combustão deram início à chamada Segunda Revolução Industrial. A partir daí, os avanços capitalistas ampliaram significativamente o seu raio de ação. Nesse mesmo período, nações asiáticas e africanas se inseriram nesse processo com a deflagração do imperialismo (ou neocolonialismo), capitaneado pelas maiores nações industriais da época. 

Durante o século XX, outras novidades trouxeram diferentes aspectos ao capitalismo. O industriário Henry Ford e o engenheiro Frederick Winslow Taylor incentivaram a criação de métodos onde o tempo gasto e a eficiência do processo produtivo fossem cada vez mais aperfeiçoados. Nos últimos anos, alguns estudiosos afirmam que vivemos a Terceira Revolução Industrial. Nela, a rápida integração dos mercados, a informática, a microeletrônica e a tecnologia nuclear seriam suas principais conquistas. 

A Revolução Industrial foi responsável por inúmeras mudanças que podem ser avaliadas tanto por suas características negativas, quanto positivas. Alguns dos avanços tecnológicos trazidos por essa experiência trouxeram maior conforto à nossa vida. Por outro lado, a questão ambiental (principalmente no que se refere ao aquecimento global) traz à tona a necessidade de repensarmos o nosso modo de vida e a nossa relação com a natureza. Dessa forma, não podemos fixar o modo de vida urbano e integrado à demanda do mundo industrial como uma maneira, um traço imutável da nossa vida quotidiana.